
Colection
O jardim, as esculturas e
as coleções de Arte
A coleção, ou seja, conjunto selecionado de objetos culturais tais como as obras de arte, é o elemento que indica a razão de ser de um jardim de esculturas. A relação de convívio estabelecida entre: museu/coleção, jardim/área de acesso público e escultura/arte tem sido praticada e retificada, ao longo da história, por aqueles que cultivam a memória dos grupos sociais e dos lugares habitados. Presentes nos espaços públicos da cidade tanto quanto nos acessos aos museus, os jardins e as coleções escultóricas traçam caminhos paralelos que se sobrepõem de modo muito particular.
Na cidade, os jardins e praças públicas exibem, desde a Antiguidade, suas peças decorativas, comemorativas ou referenciais, na forma de monumentos escultóricos. Atuando como espécie de nódulo atrator dos visitantes nesse espaço, essa modalidade de escultura integra o desenho dos jardins, ora ordenando, ora sendo absorvida por seus padrões de vegetação, sinalização ou fluxo. Ao longo do século XX, a produção em arte e arquitetura torna a caixa-museu convencional mais aberta a outras formas de contato entre interior e exterior trazendo sua estrutura mais próxima do encontro com os jardins onde, tradicionalmente, instalam parte de sua coleção escultórica.
A partir dessas aproximações entre escultura, jardim, edifício, identifica-se um território fértil para a instauração de jardins de escultura específicos nas áreas arredores dos museus, tanto quanto em outras instituições oficiais e escolas de arte. Nesses espaços, o planejamento e a curadoria vão tomando contornos cada vez mais especializados e passam a considerar em sua organização o processo de formação de coleções que demandam tempo para constituir-se. Tempo que lhes permite também refletir sobre o caráter permanente dos objetos salvaguardados e a demanda por renovação própria do campo artístico.
A Arte Pública do século XX propicia o desenvolvimento das relações entre a escultura de caráter público monumental por meio de estímulos governamentais internacionais e propostas curatoriais que resultam em novos espaços para a percepção das coleções dos museus de arte, tanto quanto dos demais projetos de artistas e arquitetos que passam a dedicar atenção especial a essa configuração espacial entre arte e arquitetura.
Depois de algum tempo obliterados por certa imobilidade da forma mais tradicional da escultura e seus desafios construtivos, em contraposição às novas metodologias da criação e da ocupação do espaço pelo caráter eventual e performativo, os jardins de escultura voltam a instigar artistas, pesquisadores e colecionadores por sua propriedade de qualificação espacial da paisagem habitada como potente portador e ativador das relações sociais que podem ser construídas nessa espacialidade. Como se vivêssemos nova camada de experimentação desses espaços conhecidos, os jardins assumem reiterada condição de permeabilidade dos sentidos de pertença e representação pública, crescente dentre as reivindicações de diferentes grupos sociais por maior participação nos caminhos assumidos pelos organismos públicos e sua relação com a comunidade do entorno e a população, de modo geral.
Assim, a coleção pretendida pelo jardim de esculturas instaurado pelo Instituto de Artes da Unicamp reúne as características da forte experimentação da práxis artística de uma escola de arte (Universidade) e seus encontros com a produção do circuito vigente, de quem se avizinha. Nasce consciente das limitações do modelo tradicional e desse modo, institui-se de modo multidisciplinar, crescente, ao longo do tempo, por meio de trabalhos artísticos contemporâneos, de variadas linguagens das artes, de caráter permanente, tanto quanto de propostas de longa duração no espaço, além de apresentações efêmeras e pontuais que incluem as outras artes estudadas e praticadas no Instituto.